ROLANDO COM ALGORITMOS: Como aplicar pensamento computacional no Jiu-Jitsu

Aula ministrada no Café no Dojo em 21/10/24 por Fábio Brandalize, que apresentou os aspectos comuns nas artes musicais e nas as artes marciais, sob a orientação do sensei Thiago Caitanya.
Tanto
a música quanto a arte marcial, mais especificamente o Jiu-Jitsu, compartilham
elementos em comum, apesar de serem formas de arte bastante diferentes em suas
práticas. Algumas semelhanças incluem:
1.
Ritmo e fluidez
Na música, o ritmo é um elemento central. A estruturação
das notas, pausas e a cadência são fundamentais para criar uma peça musical
coesa. No Jiu-Jitsu, a fluidez dos movimentos é essencial. A transição entre
posições, a sincronia dos ataques e defesas, e o "ritmo" de combate
podem ser vistos como uma espécie de dança ou coreografia, com um ritmo próprio
de ação e reação.
2.
Improvisação
Muitos músicos precisam saber improvisar, seja em uma jam
session de jazz ou na interpretação ao vivo, adaptando-se ao
que o momento pede. No tatame, a luta raramente segue um padrão fixo. Cada
situação exige uma resposta diferente, e a capacidade de improvisar frente às
ações do adversário é crucial para o sucesso.
3. Técnica e criatividade
A técnica é fundamental para qualquer músico, mas a
verdadeira expressão artística surge quando a técnica se une à criatividade,
permitindo interpretações única. No Jiu-Jitsu, a técnica precisa ser dominada
para que o praticante possa se expressar livremente nas situações de combate.
Uma vez que a técnica é internalizada, o lutador pode ser criativo ao aplicar
as transições, finalizações e defesas de forma personalizada.
4.
Disciplina e prática constante
O desenvolvimento musical requer anos de prática, repetição
e estudo contínuo. Músicos dedicam-se a aperfeiçoar suas habilidades com o
instrumento e a teoria musical. No Jiu-Jitsu, o progresso também vem com a
repetição constante e a disciplina. Treinar regularmente, aprender novas
técnicas e aprimorar as já conhecidas são elementos chave para a evolução na
arte.
5.
Autocontrole e equilíbrio emocional
Para tocar com precisão e emoção, um músico precisa de
controle emocional e mental. A performance é afetada pela capacidade de manter
a calma e o foco. Da mesma forma, o praticante de Jiu-Jitsu precisa manter o
controle emocional durante a luta. Perder a calma pode resultar em erros
técnicos e estratégicos, então o equilíbrio mental é crucial.
6.
Busca pela perfeição
O desenvolvimento de um músico é uma jornada contínua de
aperfeiçoamento, seja na técnica ou na expressividade. No Jiu-Jitsu, há uma
busca contínua pela perfeição dos movimentos e da técnica. Mesmo praticantes
experientes continuam refinando suas habilidades.
Esses
paralelos mostram que, mesmo em universos aparentemente distintos, essas artes
compartilham aspectos profundos relacionados à disciplina, criatividade,
adaptabilidade, ritmo, expressão pessoal, além da dedicação constante para
alcançar a maestria. Ambas oferecem uma forma de conexão profunda entre corpo,
mente e espírito.
ETIMOLOGIA
Quando
olhamos para a etimologia das palavras "arte musical" e "arte
marcial", podemos encontrar algumas conexões interessantes que refletem o
caráter criativo e técnico de ambas.
1.
"Arte". A palavra "arte" vem do latim
"ars", que significa "habilidade", "técnica" ou
"método". No sentido mais amplo, arte refere-se à habilidade
adquirida por meio de estudo, prática ou observação, seja em atividades
criativas como a música, ou em atividades físicas como as artes marciais. Portanto,
tanto na música quanto nas artes marciais, a ideia de "arte" está
ligada à habilidade técnica combinada com uma dimensão de expressão pessoal.
2.
"Arte Musical". "Musical" vem do grego
"mousiké", que está relacionado às musas, as divindades da inspiração
artística na mitologia grega. Inicialmente, o termo era associado a todas as
formas de arte inspiradas pelas musas, incluindo poesia, dança e música. Com o
tempo, a palavra "musical" passou a referir-se especificamente à
criação de sons organizados de forma estética, ou seja, à música. Nesse
contexto, a "arte musical" se refere à habilidade de criar e
organizar sons de forma harmoniosa, explorando o ritmo, a melodia e a harmonia
para expressar emoções e contar histórias.
3.
"Arte Marcial". "Marcial" vem do latim
"martialis", que significa "relativo a Marte", o deus
romano da guerra. Portanto, as "artes marciais" originalmente
referem-se às habilidades e práticas relacionadas ao combate e à guerra,
desenvolvidas como uma forma de defesa e ataque.
Assim,
a "arte marcial" significa, literalmente, a habilidade de lutar e
dominar técnicas de combate, mas também carrega um aspecto filosófico e
disciplinar. Muitas artes marciais, como o Jiu-Jitsu, enfatizam não apenas a
luta em si, mas o desenvolvimento do autocontrole, da mente e do espírito.
4.
Relações Etimológicas e Conceituais. Tanto a arte musical quanto
a arte marcial compartilham a origem na palavra "arte", o que indica
uma forte ênfase no desenvolvimento de habilidades e na prática repetida para
alcançar a maestria. Ambas envolvem disciplina, prática e uma certa
profundidade filosófica. A música, como as artes marciais, não é apenas uma
prática técnica; ela também envolve a expressão emocional, a conexão com algo
maior e a busca pela perfeição. Em um nível simbólico, podemos dizer que as
duas formas de "arte" são maneiras de expressar a humanidade — a
música através do som e da harmonia, e as artes marciais através do corpo em
movimento e da defesa.
5.
Arte como Expressão de Harmonia e Conflito. Na arte musical,
lidamos com harmonia, contraste, tensão e resolução, conceitos que também
existem nas artes marciais. A fluidez entre ataque e defesa no Jiu-Jitsu, por
exemplo, pode ser comparada à fluidez entre melodia e harmonia em uma
composição musical. Em ambos os casos, o domínio das regras técnicas (seja
escalas musicais ou técnicas de luta) permite a criação de algo novo e
original, seja uma peça musical ou uma combinação de movimentos em uma luta.
PERSONALIDADES
DA MÚSICA QUE PRATICAM JIU-JITSU
Há
alguns músicos famosos que são praticantes de Jiu-Jitsu, e muitos deles falam
abertamente sobre como essa arte marcial os ajuda em suas carreiras musicais e
em suas vidas pessoais. Aqui estão alguns exemplos:
1. Guy
Ritchie. Embora mais conhecido como cineasta, Guy Ritchie
também é músico e praticante de Jiu-Jitsu de alto nível, faixa-preta do Renzo
Gracie. Ex-marido da Madonna, ele chegou a influencia-la e colaborar em alguns
projetos musicais.
2.
Maynard (James Keenan). O vocalista das bandas Tool, A
Perfect Circle e Puscifer pratica Jiu-Jitsu há muitos anos e já fez aula com
Rickson Gracie. O faixa-roxa fala sobre como o Jiu-Jitsu o ajuda no
desenvolvimento mental e físico, além de proporcionar uma conexão com a
disciplina e a concentração.
3.
Zoltan Bathory. O guitarrista da banda de metal Five
Finger Death Punch é um dedicado faixa preta de Jiu-Jitsu. Ele já competiu e é
um grande defensor das artes marciais. Ele cita que o Jiu-Jitsu é uma grande
parte de seu estilo de vida e sua abordagem ao palco e à vida.
4. Travis
Barker. O baterista do Blink 182 teve aulas de Jiu-Jitsu com
Ryron Gracie. Travis adotou o esporte como um estilo de vida. "Meu modo de
tocar foi ficando rápido e mais rápido conforme eu continuava me
exercitando". Travis segue um ritmo intenso de treinos, e através do
Jiu-Jitsu ele encontrou equilíbrio. "Gosto do respeito e da disciplina que
vem das artes marciais", “isso me deixa sempre preparado para turnês
extensas, tenho que estar 110%".
5. Dave Mustaine. O líder do Megadeth é faixa marrom de Jiu-Jitsu e faixa preta de taekwondo. Ele menciona que as artes marciais o ajudaram a largar o péssimo estilo de vida de drogas e álcool e o ajudam a manter o equilíbrio físico e mental enquanto está em turnê.
6. Sepultura. Os ex integrantes do Sepultura, Igor Cavalera e Paulo Jr. também são praticantes da arte suave. Em 1996, o Sepultura gravou o vídeo clipe para a música "Attitude", que contou com a família Gracie, incluindo Royce Gracie, Rorion Gracie e o grande mestre Hélio Gracie.
Esses músicos mostram que o Jiu-Jitsu vai além do tatame, influenciando outros aspectos da vida e ajudando no desenvolvimento da disciplina, criatividade e resiliência. Para muitos deles, o Jiu-Jitsu também funciona como um escape e uma maneira de equilibrar a intensa pressão de suas carreiras musicais.
CONCLUSÃO
A arte
musical e a arte marcial compartilham uma base comum na ideia de
"arte" como habilidade e expressão pessoal. Embora uma lide com som e
a outra com movimento, ambas exigem técnica, disciplina e criatividade. A
relação etimológica revela como essas formas de arte lidam com equilíbrio e
controle, seja da melodia e ritmo ou do corpo e mente.
Essas
conexões mostram que a prática artística, seja no campo da música ou do
combate, é uma forma profunda de explorar e expressar a natureza humana.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Sobre a música como arte e expressão:
"Music and Imagination" – Aaron Copland
(1952). Nesse
livro, o compositor Aaron Copland fala sobre a importância da criatividade, da
técnica e da expressão emocional na música. Ele reflete sobre como a música
exige não apenas habilidades técnicas, mas também uma sensibilidade criativa,
algo que pode ser relacionado à prática artística em outras áreas, como o
Jiu-Jitsu. Citação: “The
whole problem can be reduced to an understanding of what it is that makes music
expressive of the human soul.”
"This Is Your Brain on Music" – Daniel J.
Levitin (2006). Levitin,
neurocientista e músico, explora como a música é processada pelo cérebro humano
e como ela afeta nossas emoções e comportamento. O livro oferece insights sobre
como a música pode ser vista como uma forma de comunicação e como ela
compartilha elementos com outras formas de expressão física, como o
esporte. Citação: “Music,
uniquely among the arts, is both completely abstract and profoundly
emotional.”
Sobre
Jiu-Jitsu e fluidez:
"Jiu-Jitsu
University" – Saulo Ribeiro (2008). Este livro é um clássico
no estudo do Jiu-Jitsu brasileiro e aborda a técnica, a disciplina e a fluidez
necessárias para dominar essa arte marcial. Ribeiro enfatiza o equilíbrio entre
técnica e adaptação, algo que ressoa muito com a criatividade e improvisação
encontradas na música. Citação:
“Jiu-jitsu is not about being better than someone else, but about being better
than you were yesterday.”
"The Art of Learning" – Josh Waitzkin
(2007). Waitzkin foi campeão de xadrez e praticante de
Jiu-Jitsu. No livro, ele explora como a prática de qualquer arte, seja mental
como o xadrez ou física como o Jiu-Jitsu, envolve padrões de aprendizado e
desenvolvimento contínuo, destacando a importância do ritmo, da prática e da
capacidade de improvisar. Citação:
“In both chess and martial arts, we are constantly searching for that perfect
balance between the technical and the intuitive.
Sobre
a filosofia das artes marciais e seu vínculo com a expressão artística:
"The Tao of Jeet Kune Do" – Bruce Lee
(1975). Embora
mais focado no Jeet Kune Do, o livro de Bruce Lee apresenta uma filosofia das
artes marciais que pode ser aplicada ao Jiu-Jitsu e outras áreas da vida. Ele
fala sobre a fluidez, a adaptação e o uso do corpo como um meio de expressão
artística, traçando paralelos com outras formas de arte, como a dança e a
música. Citação: “Be like water
making its way through cracks. Do not be assertive, but adjust to the object,
and you shall find a way around or through it.”
Conexões
entre arte, esporte e performance:
"The Inner Game of Tennis" – W. Timothy
Gallwey (1974). Embora
seja focado no tênis, esse livro é considerado uma obra-prima sobre como os
princípios do desempenho mental e físico podem ser aplicados a qualquer
disciplina, incluindo música e Jiu-Jitsu. Gallwey explora como a
concentração, o autocontrole e a prática são essenciais para o
desenvolvimento. Citação:
“The player of the inner game comes to value the art of relaxed concentration
above all other skills.”
Essas
obras cobrem desde o desenvolvimento de habilidades e técnicas até a filosofia
por trás de diferentes formas de arte e expressão, permitindo entender melhor
as ligações entre o Jiu-Jitsu e a música.
ROTEIRO
Abertura musical: guitarra - Master of Puppets https://www.youtube.com/watch?v=ihemxgcgjpa
Apresentação instrumento: piano
Melodia musical, harmonia musical, ritmo.
Leitura: texto, analogia.
Músicos Jiu-Jitsukas
Spotfy list
Apreciação piano: Mozart - 12 variações 7 min https://www.youtube.com/watch?v=no-ecxhepqi
Fim obra Mozart para dois pianos - 3 min https://www.youtube.com/watch?v=r1g9va9yvo0
Até mais!
FÁBIO CRISTÓFOLI BRANDALIZE (@fabioc.brandalize) é Bacharel em Engenharia Mecânica pela UNOPAR, graduado em Música pela UNIPAN, Especialista em Docência no Ensino Superior, professor de Música e Artes Visuais, Produtor Musical e Empresário.
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