ROLANDO COM ALGORITMOS: Como aplicar pensamento computacional no Jiu-Jitsu

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Aula ministrada  no Café no Dojo em 28/10/24  por Daniel Cavalcanti , s ob a orientação do sensei Thiago Caitanya. Introdução a algoritmos Um algoritmo é um conjunto finito de operações ordenadas passo-a-passo para resolver um problema ou realizar uma tarefa. Todo algoritmo recebe um conjunto de entradas, as quais são transformadas ou processadas por um conjunto de operações sequenciais, produzindo uma saída. Receitas são o exemplo clássico de algoritmos: os ingredientes são a nossa entrada, os passos são as operações, e o resultado é a saída. O termo passo-a-passo indica a necessidade de completar cada etapa antes que a próxima inicie, pois os passos possuem dependência temporal, o passo seguinte depende do que é produzido no passo anterior. As operações devem seguir uma ordem pré-definida, não é possível assar o bolo antes de bater a massa. As operações devem ser bem definidas, isto é, não podem ser ambíguas. Este conceito frequentemente encontra falhas na sua aplicação. Ret...

MÚSICA E JIU-JITSU

 

Aula ministrada no Café no Dojo em 21/10/24 por Fábio Brandalize, que apresentou os aspectos comuns nas artes musicais e nas as artes marciais, sob a orientação do sensei Thiago Caitanya.

Tanto a música quanto a arte marcial, mais especificamente o Jiu-Jitsu, compartilham elementos em comum, apesar de serem formas de arte bastante diferentes em suas práticas. Algumas semelhanças incluem:

1. Ritmo e fluidez 

Na música, o ritmo é um elemento central. A estruturação das notas, pausas e a cadência são fundamentais para criar uma peça musical coesa. No Jiu-Jitsu, a fluidez dos movimentos é essencial. A transição entre posições, a sincronia dos ataques e defesas, e o "ritmo" de combate podem ser vistos como uma espécie de dança ou coreografia, com um ritmo próprio de ação e reação.

2. Improvisação

Muitos músicos precisam saber improvisar, seja em uma jam session de jazz ou na interpretação ao vivo, adaptando-se ao que o momento pede. No tatame, a luta raramente segue um padrão fixo. Cada situação exige uma resposta diferente, e a capacidade de improvisar frente às ações do adversário é crucial para o sucesso.

3. Técnica e criatividade

A técnica é fundamental para qualquer músico, mas a verdadeira expressão artística surge quando a técnica se une à criatividade, permitindo interpretações única. No Jiu-Jitsu, a técnica precisa ser dominada para que o praticante possa se expressar livremente nas situações de combate. Uma vez que a técnica é internalizada, o lutador pode ser criativo ao aplicar as transições, finalizações e defesas de forma personalizada.

4. Disciplina e prática constante

O desenvolvimento musical requer anos de prática, repetição e estudo contínuo. Músicos dedicam-se a aperfeiçoar suas habilidades com o instrumento e a teoria musical. No Jiu-Jitsu, o progresso também vem com a repetição constante e a disciplina. Treinar regularmente, aprender novas técnicas e aprimorar as já conhecidas são elementos chave para a evolução na arte.

5. Autocontrole e equilíbrio emocional

Para tocar com precisão e emoção, um músico precisa de controle emocional e mental. A performance é afetada pela capacidade de manter a calma e o foco. Da mesma forma, o praticante de Jiu-Jitsu precisa manter o controle emocional durante a luta. Perder a calma pode resultar em erros técnicos e estratégicos, então o equilíbrio mental é crucial.

6. Busca pela perfeição

O desenvolvimento de um músico é uma jornada contínua de aperfeiçoamento, seja na técnica ou na expressividade. No Jiu-Jitsu, há uma busca contínua pela perfeição dos movimentos e da técnica. Mesmo praticantes experientes continuam refinando suas habilidades.

Esses paralelos mostram que, mesmo em universos aparentemente distintos, essas artes compartilham aspectos profundos relacionados à disciplina, criatividade, adaptabilidade, ritmo, expressão pessoal, além da dedicação constante para alcançar a maestria. Ambas oferecem uma forma de conexão profunda entre corpo, mente e espírito.

 

ETIMOLOGIA

Quando olhamos para a etimologia das palavras "arte musical" e "arte marcial", podemos encontrar algumas conexões interessantes que refletem o caráter criativo e técnico de ambas.

1. "Arte". A palavra "arte" vem do latim "ars", que significa "habilidade", "técnica" ou "método". No sentido mais amplo, arte refere-se à habilidade adquirida por meio de estudo, prática ou observação, seja em atividades criativas como a música, ou em atividades físicas como as artes marciais. Portanto, tanto na música quanto nas artes marciais, a ideia de "arte" está ligada à habilidade técnica combinada com uma dimensão de expressão pessoal.

2. "Arte Musical". "Musical" vem do grego "mousiké", que está relacionado às musas, as divindades da inspiração artística na mitologia grega. Inicialmente, o termo era associado a todas as formas de arte inspiradas pelas musas, incluindo poesia, dança e música. Com o tempo, a palavra "musical" passou a referir-se especificamente à criação de sons organizados de forma estética, ou seja, à música. Nesse contexto, a "arte musical" se refere à habilidade de criar e organizar sons de forma harmoniosa, explorando o ritmo, a melodia e a harmonia para expressar emoções e contar histórias.

3. "Arte Marcial". "Marcial" vem do latim "martialis", que significa "relativo a Marte", o deus romano da guerra. Portanto, as "artes marciais" originalmente referem-se às habilidades e práticas relacionadas ao combate e à guerra, desenvolvidas como uma forma de defesa e ataque.

Assim, a "arte marcial" significa, literalmente, a habilidade de lutar e dominar técnicas de combate, mas também carrega um aspecto filosófico e disciplinar. Muitas artes marciais, como o Jiu-Jitsu, enfatizam não apenas a luta em si, mas o desenvolvimento do autocontrole, da mente e do espírito.

4. Relações Etimológicas e Conceituais. Tanto a arte musical quanto a arte marcial compartilham a origem na palavra "arte", o que indica uma forte ênfase no desenvolvimento de habilidades e na prática repetida para alcançar a maestria. Ambas envolvem disciplina, prática e uma certa profundidade filosófica. A música, como as artes marciais, não é apenas uma prática técnica; ela também envolve a expressão emocional, a conexão com algo maior e a busca pela perfeição. Em um nível simbólico, podemos dizer que as duas formas de "arte" são maneiras de expressar a humanidade — a música através do som e da harmonia, e as artes marciais através do corpo em movimento e da defesa.

5. Arte como Expressão de Harmonia e Conflito. Na arte musical, lidamos com harmonia, contraste, tensão e resolução, conceitos que também existem nas artes marciais. A fluidez entre ataque e defesa no Jiu-Jitsu, por exemplo, pode ser comparada à fluidez entre melodia e harmonia em uma composição musical. Em ambos os casos, o domínio das regras técnicas (seja escalas musicais ou técnicas de luta) permite a criação de algo novo e original, seja uma peça musical ou uma combinação de movimentos em uma luta.

 

PERSONALIDADES DA MÚSICA QUE PRATICAM JIU-JITSU

Há alguns músicos famosos que são praticantes de Jiu-Jitsu, e muitos deles falam abertamente sobre como essa arte marcial os ajuda em suas carreiras musicais e em suas vidas pessoais. Aqui estão alguns exemplos:

1. Guy Ritchie. Embora mais conhecido como cineasta, Guy Ritchie também é músico e praticante de Jiu-Jitsu de alto nível, faixa-preta do Renzo Gracie. Ex-marido da Madonna, ele chegou a influencia-la e colaborar em alguns projetos musicais.

2. Maynard (James Keenan). O vocalista das bandas Tool, A Perfect Circle e Puscifer pratica Jiu-Jitsu há muitos anos e já fez aula com Rickson Gracie. O faixa-roxa fala sobre como o Jiu-Jitsu o ajuda no desenvolvimento mental e físico, além de proporcionar uma conexão com a disciplina e a concentração.

3. Zoltan Bathory. O guitarrista da banda de metal Five Finger Death Punch é um dedicado faixa preta de Jiu-Jitsu. Ele já competiu e é um grande defensor das artes marciais. Ele cita que o Jiu-Jitsu é uma grande parte de seu estilo de vida e sua abordagem ao palco e à vida.

4. Travis Barker. O baterista do Blink 182 teve aulas de Jiu-Jitsu com Ryron Gracie. Travis adotou o esporte como um estilo de vida. "Meu modo de tocar foi ficando rápido e mais rápido conforme eu continuava me exercitando". Travis segue um ritmo intenso de treinos, e através do Jiu-Jitsu ele encontrou equilíbrio. "Gosto do respeito e da disciplina que vem das artes marciais", “isso me deixa sempre preparado para turnês extensas, tenho que estar 110%".

5. Dave Mustaine. O líder do Megadeth é faixa marrom de Jiu-Jitsu e faixa preta de taekwondo. Ele menciona que as artes marciais o ajudaram a largar o péssimo estilo de vida de drogas e álcool e o ajudam a manter o equilíbrio físico e mental enquanto está em turnê.

6. Sepultura. Os ex integrantes do Sepultura, Igor Cavalera e Paulo Jr. também são praticantes da arte suave. Em 1996, o Sepultura gravou o vídeo clipe para a música "Attitude", que contou com a família Gracie, incluindo Royce Gracie, Rorion Gracie e o grande mestre Hélio Gracie.

Esses músicos mostram que o Jiu-Jitsu vai além do tatame, influenciando outros aspectos da vida e ajudando no desenvolvimento da disciplina, criatividade e resiliência. Para muitos deles, o Jiu-Jitsu também funciona como um escape e uma maneira de equilibrar a intensa pressão de suas carreiras musicais.

 

CONCLUSÃO

A arte musical e a arte marcial compartilham uma base comum na ideia de "arte" como habilidade e expressão pessoal. Embora uma lide com som e a outra com movimento, ambas exigem técnica, disciplina e criatividade. A relação etimológica revela como essas formas de arte lidam com equilíbrio e controle, seja da melodia e ritmo ou do corpo e mente.

Essas conexões mostram que a prática artística, seja no campo da música ou do combate, é uma forma profunda de explorar e expressar a natureza humana.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Sobre a música como arte e expressão:

"Music and Imagination" – Aaron Copland (1952).  Nesse livro, o compositor Aaron Copland fala sobre a importância da criatividade, da técnica e da expressão emocional na música. Ele reflete sobre como a música exige não apenas habilidades técnicas, mas também uma sensibilidade criativa, algo que pode ser relacionado à prática artística em outras áreas, como o Jiu-Jitsu. Citação: “The whole problem can be reduced to an understanding of what it is that makes music expressive of the human soul.”

"This Is Your Brain on Music" – Daniel J. Levitin (2006).  Levitin, neurocientista e músico, explora como a música é processada pelo cérebro humano e como ela afeta nossas emoções e comportamento. O livro oferece insights sobre como a música pode ser vista como uma forma de comunicação e como ela compartilha elementos com outras formas de expressão física, como o esporte. Citação: “Music, uniquely among the arts, is both completely abstract and profoundly emotional.” 

Sobre Jiu-Jitsu e fluidez:

"Jiu-Jitsu University" – Saulo Ribeiro (2008). Este livro é um clássico no estudo do Jiu-Jitsu brasileiro e aborda a técnica, a disciplina e a fluidez necessárias para dominar essa arte marcial. Ribeiro enfatiza o equilíbrio entre técnica e adaptação, algo que ressoa muito com a criatividade e improvisação encontradas na música. Citação: “Jiu-jitsu is not about being better than someone else, but about being better than you were yesterday.”

"The Art of Learning" – Josh Waitzkin (2007). Waitzkin foi campeão de xadrez e praticante de Jiu-Jitsu. No livro, ele explora como a prática de qualquer arte, seja mental como o xadrez ou física como o Jiu-Jitsu, envolve padrões de aprendizado e desenvolvimento contínuo, destacando a importância do ritmo, da prática e da capacidade de improvisar. Citação: “In both chess and martial arts, we are constantly searching for that perfect balance between the technical and the intuitive.

Sobre a filosofia das artes marciais e seu vínculo com a expressão artística:

"The Tao of Jeet Kune Do" – Bruce Lee (1975). Embora mais focado no Jeet Kune Do, o livro de Bruce Lee apresenta uma filosofia das artes marciais que pode ser aplicada ao Jiu-Jitsu e outras áreas da vida. Ele fala sobre a fluidez, a adaptação e o uso do corpo como um meio de expressão artística, traçando paralelos com outras formas de arte, como a dança e a música. Citação: “Be like water making its way through cracks. Do not be assertive, but adjust to the object, and you shall find a way around or through it.”

Conexões entre arte, esporte e performance:

"The Inner Game of Tennis" – W. Timothy Gallwey (1974). Embora seja focado no tênis, esse livro é considerado uma obra-prima sobre como os princípios do desempenho mental e físico podem ser aplicados a qualquer disciplina, incluindo música e Jiu-Jitsu. Gallwey explora como a concentração, o autocontrole e a prática são essenciais para o desenvolvimento. Citação: “The player of the inner game comes to value the art of relaxed concentration above all other skills.”
Essas obras cobrem desde o desenvolvimento de habilidades e técnicas até a filosofia por trás de diferentes formas de arte e expressão, permitindo entender melhor as ligações entre o Jiu-Jitsu e a música.

ROTEIRO

Abertura musical: guitarra - Master of Puppets https://www.youtube.com/watch?v=ihemxgcgjpa
Apresentação instrumento: piano
Melodia musical, harmonia musical, ritmo.
Leitura: texto, analogia.
Músicos Jiu-Jitsukas
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Apreciação piano: Mozart - 12 variações 7 min
https://www.youtube.com/watch?v=no-ecxhepqi
Fim obra Mozart para dois pianos - 3 min
https://www.youtube.com/watch?v=r1g9va9yvo0
 
 

Até mais!



FÁBIO CRISTÓFOLI BRANDALIZE (@fabioc.brandalize) é Bacharel em Engenharia Mecânica pela UNOPAR, graduado em Música pela UNIPAN, Especialista em Docência no Ensino Superior, professor de Música e Artes Visuais, Produtor Musical e Empresário.

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